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Correspondência Interna
Monday, November 24, 2003
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Porto, 16h da tarde, dia 24 de Novembro.

Existem dias assim. Existem dias em que a cadeia do tempo, que une uns dias aos outros, parece ter sido quebrada.
Nestes dias tudo parece ter sido interrompido. Nestes dias tudo parece ter sido suspenso até data indefenida.
Nestes dias nada faz lembrar nada e tudo faz lembrar qualquer coisa... Qualquer coisa que me
escapa por entre cada segundo deste dia...
Nem o dia lá fora,
Nem a música aqui tão perto de mim,
Nada disto faz sentido,
Nada disto escapa à sensação de descontinuidade,
À sensação de que, tal como eu e como tudo nisto neste dia,
Nada está preso a ontem,
Nada caminha para amanhã...
E se todos os dias fossem assim?
E se a minha vida se partisse,
Ficasse sem ligação de uns momentos para os outros?
Amanhã o fio do tempo terá recuperado a passagem dos dias em mim,
E deste 24 de Novembro nada mais restará do que estas palavras
Sobre um dia partido.
Mas existirão outros dias.
Sempre existiram.
Dias sem ligação.
Dias em que nos sentimos viver
Insuportávelmente longe de tudo aquilo que é nosso...
Dias em acordamos para nos depararmos com uma vida partida,
Sem nada,
Sem música,
Luz,
Ou cor.
Sem ti.
É a isto que tudo se resume, não é?
Sem ti.
E a minha vida parte-se,
Porque não são os relógios nem o movimento do sol
Que marcam o tempo da minha vida.
São as pessoas.
Algumas pessoas.
E uma dessas pessoas és tu.
É isto, sabes?
É isto acordar para um dia
Sem ti.

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Friday, November 21, 2003
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COIMBRA B

Foi há quase dois anos, neste mesmo local, que nos vimos pela primeira vez.
Recordo-me que estava uma manhã fria, cinzenta,
E que tu estavas sentada num dos bancos de madeira,
Junto à gare.
Sei que eu estava confuso: pouco dormira,
os pensamentos não se estabilizavam na minha mente.
Entramos num café onde não havia café...
Eu desesperava, ansiando que a cafeína me trouxesse de volta a mim mesmo,
Enquanto tu parecias voar à minha frente
Numa torrente de palavras e de energia que eram,
Naquele momento, demasiadas para mim.
Pensava que dava uma triste imagem de mim próprio,
Assertivo, concordando com tudo o que dizias,
Incapaz de lançar uma ideia, um lampejo por onde pudesses ver
Que vivia, bem para além dessa minha passividade
De uma manhã sem cafeína.

Quando ao fim da tarde aqui regressamos
Para que apanhasses o comboio,
Pensei que nunca mais te veria.
Pensei que não voltarias fazer centenas de quilómetros
Para te encontrares com uma pessoa que não conseguira dar de si
Mais do que uma imagem profundamente desinteressante.

É certo que nada aconteceu com eu previ nesse fim de tarde de Maio.

Por isso, hoje, uma vez mais, como sempre acontece quando passo aqui,
Procurei o banco onde estavas sentada da primeira vez que te vi.

Está a chover, sabes?
A estação está insuportavelmente cinzenta, triste.
Talvez por isso, penso que também nós estamos assim.
Os dias arrastam-se. As horas são passadas lentamente,
E em cada uma delas é impossível não sentir
Os dias cinzentos que nos atravessam.

Amar quando o Inverno não passa.
Pensar que talvez desistas antes que o Inverno acabe.
Pensar que talvez este Inverno nos possa, para sempre,
Levar com ele.
Tudo isto dói como dói a chuva sobre Coimbra B, Sandra.

Desaprendi a forma como te fazia rir.
Desaprendi as palavras, todas as palavras.
Desaprendi os silêncios, todos os silêncios.
O que tenho agora para ti?
Gestos incoerentes,
Reencontros nervosos,
Desencontros em cada momento
De cada hora.
E Coimbra B em Maio,
E todas as tuas palavras em Maio,
E todo o teu sorriso em Maio,
E tudo o que me deste,
E tudo o que eu te dei,
Em cada hora passada
Desde a primeira hora
de Maio.

Tudo isto.
Maio contra este Inverno.
Palavras contra silêncio,
Silêncio contra palavras.
Eu contra mim,
Eu contra ti,
Tu contra mim,
Tu contra ti,
O amor contra o vazio
e o vazio contra o amor.
E um banco junto à gare,
Onde estarás sempre sentada,
Mesmo quando já não existires,
Mesmo quando eu já não existir.

Mesmo nas coisas mais simples
Há sempre algo que está a mais.
Mesmo nas coisas mais complexas
Há sempre algo que falta.

Fazes-me falta, Sandra.

Em Maio.
No Inverno.
Ontem.
Hoje.
Aí.
Aqui.
Agora.
Sempre.


12 de Novembro de 2003.

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Sunday, November 09, 2003
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Este post é só para dizer que continuo por aqui. Com um writer's block... em vez de um writer's blog...

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