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Para Dar Uso, SFF!
Correspondência Interna
Saturday, May 28, 2005
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"Dias de Maio"

Olho, insistentemente, para a essência de cada momento.
Procuro, em cada segundo, um estruturação
Que me permita compreender a tua ausência.
Uma estruturação complexa que me deixe
Entrever,
Em cada segundo,
A inevitabilidade do teu
Regresso.

Nem sempre sou forte. Aliás, muitas vezes não o sou.
E agora,
Agora que não vivo dias de máscaras,
Agora que não atravesso tempos de
Poses e de fingimentos,
Muitas vezes não sou forte,
Muitas vezes tenho medo.
Mas sou mais forte quanto, não o sendo,
Não o sou e deixo que os dias e os segundos
Me transportem no balanço da sua harmonia.
Sou mais forte quando tenho medo
E sei que o tenho, porque
Há sempre algo, nos dias e nos momentos,
Que me protege e me conforta.

Não vivo dias de máscaras.
E talvez por isso os dias me abracem mais.

Não vivo tempos de poses e de
Fingimentos.
E talvez por isso os tempos me envolvam
Com mais doçura, com mais carinho.

E então, se eu procuro uma estruturação
Lógica nos dias,
Os dias devolvem-me sinais.
Os dias falam comigo,
E explicam-me, agora que os vejo e ouço,
A tua ausência e o teu regresso.
Mas nem sempre sou forte.
E quando não sou forte, duvido dos sinais
Do teu regresso.

Mas os dias, eles não cessam os sinais.
Eles sabem que as minhas dúvidas
Nascem do meu medo,
E sabem que a cada sinal
Espero a Evidência,
O Acreditar Pleno.

Os dias, então, detêm-me
A horas destas,
A horas da noite,
Horas tardias.
E os dias, no silêncio de uma cidade
Que dorme,
Fazem-me escrever e encontrar,
Nas palavras e nos sinais,
Uma Evidência.

Os dias abraçam-me
E fazem-me olhar, de frente,
Para a essência do Mundo.

Sustêm-me a face,
Seguram a minha mão esquerda,
Enquanto, letra por letra,
Eu escrevo que
A Essência do Mundo és Tu.

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Friday, May 27, 2005
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"O Mundo de Joana"


Foi Deus que criou o nosso amor. Foi Deus que o concebeu num dia mais azul do que os outros. E por ter sido criado por Deus, foi posto à prova. E eu caí. Os meus temores tomaram conta de mim e agiram. E disseram que eles valiam mais do que o nosso amor. Depois, depois de dias de luta, esses amotinados morreram. De exaustão. E eu dei por mim, ao amanhecer, sozinho num barco, no meio de algum ponto do oceano.
Estava um dia de sol, e talvez esse facto acentuasse as minhas memórias dos tempos de tempestade.
Estava totalmente sozinho, só tinha o sol. E o sol aproximou-se de mim. Perguntei-lhe por ti e o sol mostrou-me a tua imagem, num local distante, muito distante de mim. Perguntei-lhe por Deus e o sol disse-me que, ainda que eu não o visse, ele estava em toda a parte. E perguntou-me o que iria eu fazer.
Eu respondi "navegar para junto dela". E, "junto dela, mostrar que os amotinados morreram, que já só resto eu em mim".

- "Mas se tu não sabes onde ela está... Vais navegar para onde?"
Eu, então, à medida que um coro de anjos se nos juntava, à medida que bandos de pássaros se aproximavam, expliquei ao Sol:

- "Vou navegar para onde ela está. Não te posso dizer agora onde ela está, porque não o sei. Mas sei que o barco irá nessa direcção, sei que o vento esticará as velas nesse rumo, e eu encontrá-la-ei".

- "E as tempestades? E os ventos contrários?" - perguntou o Sol.

- "Morreram com os amotinados. Agora o que pesará na minha navegação será a distância, que pode ser imensa. E se for imensa, muitos dias me verás um pouco abatido pela saudade e noutros dias será essa sensação de tanto caminho pela frente que me porá triste."

- "E que farás nesses dias?"

- "Nada. Continuarei a navegar para ela. E tu dar-me-às força. E estes anjos e estes pássaros também me darão força. E eu navegarei.
À medida que a distância se tornar menor, pássaros líquidos, tulipas, raios de azul e aragens de infinitos juntar-se-ão a esta viagem. Porque são a expressão da poesia e quando sentirem cambiantes no horizonte, cambiantes essas que sinalizarão a proximidade do Mundo de Joana, juntar-se-ão à marcha e então teremos palavras mágicas para nos anunciar aos dias pelos quais passemos.
Depois, um dia, um dia depararmo-nos-emos com uma tulipa que flutuará à superfície das ondas. Essa tulipa virá do Mundo de Joana. Talvez se tenha perdido porque é possível que, num dado momento, no Mundo de Joana não se acreditasse que eu faria toda esta viagem. Talvez até tenha corrido a lenda de que eu sucumbira aos amotinados...
E ao ver essa tulipa, e quando ela nos vir, logo se juntará a nós, e saberemos que estamos mais perto.
Nos dias seguintes, veremos mais tulipas, pássaros líquidos,, raios de azul, aragens de infinito. A princípio, parecer-nos-à um mundo em destroços. Mas que nenhum do que me acompanhar se engane: Não será um mundo em destroços, será um espaço onde vagueiam memórias. É o princípio do Mundo de Joana.
Estes azuis, estes pássaros líquidos, estas tulipas e estas aragens de infinito rapidamente desaparecerão do alcance do nosso olhar. Irão para junto dos outros pássaros, tulipas, azuis e infinitos. Para junto de onde Joana está.
O mesmo sucederá com todos os anjos e todas as luzes que virmos à entrada do Mundo de Joana. Sabei que durante todo o tempo em que estivermos a navegar, estas entidades estarão a passear nas fornteiras do Mundo de Joana, procurando sinais deste barco que Deus escreveu um dia que iria chegar.
Quando nos virem, irão, em júbilo, dizer a Joana que o meu mundo está próximo, que o meu mundo está a chegar. "

- "E diz-me", perguntou o Sol, "Joana não o temerá?"

- "Não. Joana não o temerá porque ela saberá que só poderia ser eu. Só eu poderia navegar toda essa distância. Ela saberá que os amotinados teriam sucumbido algures no caminho, ou teriam simplesmente vogado sem rumo. E Joana saberá a frase de Séneca «Nenhum Vento sopra a favor de quem não sabe para onde vai». Mas Joana não acreditará... Joana não acreditará que eu pudesse ter sobrevivido e encetado até ao fim esta viagem..."

- "E que acontecerá quando, por fi, o teu mundo entrar no Mundo de Joana?"

- "Os anjos voarão e no seu vôo arrastarão todas as tulipas, todas as luzes, todos os pássaros, todos os azuis e todos os infinitos, em elipses eternas, em redor de Joana e de mim. Todas as cores, a todos os momentos, todos os sons a cada instante.
E no ar estará sempre imanente a glória que existe quando dois mundos, quando estes dois mundos, o de Joana e o meu, se encontram.
Joana estará sentada, olhos no chão (porque ela ainda não acreditará que possa ser verdade...), junto a uma cascata... Joana sempre procurou a água como refúgio e força regeneradora...

Eu aproximar-me-ei, mas antes Deus falará comigo. E dir-me-à: "Tudo o que é vida te trouxe até aqui. Mas tudo o que é vida nada poderia ter feito se tu, no primeiro dia de todos, não tivesses decidido navegar até Joana. E tudo o que é vida nada poderia ter feito se, dentro de si, Joana não tivesse acreditado que sobreviverias aos amotinados e encetarias esta viagem. Eu crei este amor e tu e Joana tornam-no ainda mais bonito".
então eu falarei com Deus e dir-lhe-ei: "Ainda assim, foi tudo o que é vida que me trouxe até aqui. Todas as noites de incerteza, todos os dias de vazio, havia sempre um anjo, uma palavra, uma luz que brincava comigo, me fazia sorrir, e sorrir é uma coisa tão próxima de navegar..."

Então aproximar-me-ei de Joana.
Chamá-la-ei.
Ela olhará para mim.
Sentar-me-ei ao lado dela.
Olharei para ela.

E abraçá-la-ei.
E, então, o Mundo do Amor de Joana e Ricardo

Ter-se-à, por fim e para sempre,

Reencontrado.

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Wednesday, May 25, 2005
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"Luz"

Os dias despertam com esse cheiro a ti...
De toda a distância, sinto o teu travo de lua...
As tuas palavras de tulipa...
E acordo, com o sol inundado-me o quarto onde não estás
Mas onde, por entre toda a luz que entra,
Te pressinto em toda a parte...

Sons do passado confundem-se com silêncios do presente
E eu compreendo, ao despertar com toda esta luz,
Que o tempo não é importante.
O importante é esta luz
E tudo que de ti nela existe.

Então estás longe e então estás insuportavelmente perto.
Não te vejo e vejo-te em toda a parte.

O tempo não é importante. Nada.
Importante é esta Luz que me acorda
Com a dádiva intemporal de existires...

E fecho os olhos e deslizo para dentro da Luz...
E o dia levanta-me com um beijo de céu e de sol...
Azul e infinito...

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Deixo aqui um texto publicado na edição de hoje, dia 25 de Maio, do Jn. Adorei lê-lo. Aqui vai:

Camelo, leão e criança

por Luís Portela

O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) defendeu que os seres humanos evoluem na Terra, podendo passar metaforicamente por três fases "camelo", "leão" e "criança".

Cada homem recebe uma determinada herança cultural da sociedade em que vive, desde os princípios da moral até ao enquadramento político, abarcando um posicionamento religioso e todo um conjunto de hábitos sociais. Aprende a memorizar o passado, tal como o camelo acumula no seu corpo enormes quantidades de água e de comida, para a sua travessia do deserto.
No estado de camelo, o homem segue o que lhe ensinaram, com pequenas variações. Não sabe dizer não. Mas o seu sim não pode ser muito profundo, porque, enquanto não assimilar o verdadeiro sentido de tudo o que aprendeu e a possibilidade de dizer não, abrindo o caminho a perspectivas diferentes, só pode ficar à superfície das coisas.
Quando assimilamos a comida, não precisamos de nos lembrar dela. Ela deixou de existir por si, misturando-se no nosso sangue e passando a fazer parte do nosso corpo. O homem vai assimilando o passado, libertando-se do seu peso e tornando-se capaz de desenhar novas perspectivas tendo como base tudo o que assimilou.

Os seres humanos podem assimilar os ensinamentos dos pais, dos avós, dos professores, de Buda, de Cristo, de Moisés, de Lao-Tsé, etc.. Quanto mais assimilarem, maior capacidade ganham para poder discernir o que lhes interessa do que não lhes interessa.
E um dia o homem sente capacidade de dizer não, de reagir contra o que lhe querem impor como verdade absoluta e única, embora lhe possam ser apresentadas várias versões absolutas. Rebela-se, revolta-se, rugindo como um leão a tentar despedaçar o enorme monstro de "tu não podes", que sente que lhe puseram em cima.
Descobre a sua verdade interior, a sua própria luz, tornando-se consciente da sua criatividade. E começa por se tornar um lutador contra o sistema, procurando desacreditá-lo e dando novas achegas.
Mas, à medida que evolui, vai percebendo que quem está contra o passado ainda não é realmente livre. Ainda mantém queixas, ressentimentos, feridas. Comporta-se como um leão, porque, de alguma forma, tem medo do camelo.
Nietzsche admitia que mais de 90 por cento da Humanidade se comporta como o camelo, mantendo uma obediência praticamente cega ao que de essencial a sociedade lhe transmite, apenas "escouceando" (às vezes, bastante) em pequenas coisas. E, de entre aqueles que descobrem em si a capacidade de reagir, pensando pela sua própria cabeça, considerava que alguns - poucos - percebem que não precisam de se zangar com os pais, com os professores, com os sacerdotes, com a sociedade em geral.
O homem mais evoluído perceberá que não precisa de estar contra, que não precisa de destruir tudo para criar um mundo novo, idêntico ao que idealiza. Afinal, tudo faz parte do todo - cada partícula no seu estado de evolução, o que é respeitável.
Se o estado de camelo é de dependência, o estado de leão é de independência. Mas, à medida que o ser humano abarca mais a realidade universal, parece que vai percebendo uma interdependência - tudo e todos são dependentes uns dos outros. Tudo é o todo.
Não faz falta a fixação no sim, mas também não é vantajosa a obsessão pelo não. Com o sentido da totalidade, parece surgir uma maior fluidez, uma crescente espontaneidade, uma real autenticidade. O ser humano sente-se responsável pelo seu passado, pelo seu presente e pelo seu futuro, deixando essencialmente de reagir e passando a agir em consciência. O homem assume aqui um estado de inocência semelhante ao da criança, simplesmente inefável, quase indefinível.

O homem-camelo tem, sobretudo, memória. O homem-leão tem, sobretudo, inteligência. O homem-criança tem, sobretudo, sabedoria, assumindo o amor como uma maneira de ser.

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Tuesday, May 24, 2005
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Hoje, mais do que tudo, apetece-me que estes sons e estas palavras me invadam o coração. E despejem raios de luz por toda a parte...

"Return To Innocence"

That's not the beginning of the end
That's the return to yourself
The return to innocence
Love - Devotion
Feeling - Emotion Love - Devotion
Feeling - Emotion
Don't be afraid to be weak
Don't be too proud to be strong
Just look into your heart my friend
That will be the return to yourself
The return to innocence
If you want, then start to laugh
If you must, then start to cry
Be yourself don't hide
Just believe in destiny
Don't care what people say
Just follow your own way
Don't give up and use the chance
To return to innocence
That's not the beginning of the end
That's the return to yourself
The return to innocence
Don't care what people say
Follow just your own way
Follow just your own way
Don't give up, don't give up
To return, to return to innocence.
If you want then laugh
If you must then cry
Be yourself don't hide
Just believe in destiny.

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Monday, May 23, 2005
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Quando aqui me sentei, ia escrever sobre uma comparação. Não o vou fazer. Não interessa. Existem coisas mais prementes a falar. Existe o amor.
O que estarás a fazer?
Como estão a ser os teus dias?
Ainda te lembras de todas as coisas que dissemos? De todas?
Ainda te lembras da primeira vez nos vimos?
Ainda te lembras da primeira palavra que trocamos?
Ainda te lembras da sensação que tiveste quando pela primeira vez me sentei junto a ti?
ainda te lembras de tudo o que projectamos?
Ainda te lembras de tudo o que falamos, uma noite, na tua garagem, durante longos minutos, às escuras?
Ainda te lembras da forma como ríamos?
Ainda te lembras da forma como nos abraçávamos?
Ainda te lembras?

Não tenho respostas. E as perguntas não param de cair na minha cabeça. Segundo após segundo. Minuto após minuto. Hora após hora. Dia após dia.

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"As coisas que há que dizer"

Estou aqui. Estou aqui a viver um momento duro. Duro por várias razões. Duro porque, em primeiro lugar, tu não estás aqui. Porque tenho que viver 24 sobre 24 horas com a tua ausência. Duro porque deixei de beber. A sobriedade não é simples. Não o é quando, durante anos, nos habituamos a viver numa euforia etílica. agora, paramos de beber e, num certo sentido, é como se o mundo parasse. ou melhor, como se o mundo abrandasse, abrandasse muito. Por isso, já o escrevi, sinto cada momento que passa por mim. Até hoje, nunca havia suspeitado que existissem tantos momentos num minuto, numa hora e assim sucessivamente.
Não bebo há seis dias. não é quase nada. Mas têm sido seis dias complicados. Porque o mundo pára, cada segundo é-me projectado com uma violência densa, de realidade, e seis dias assim são muita coisa.

Se já me apeteceu beber? Já. Mas entendo que existe um ponto em que ou paramos ou caímos para sempre. Eu senti, há alguns dias atrás, que tinha chegado a esse ponto. E compreendi que não quero cair para sempre. Tenho um filho lindo que me dá um amor como até hoje não conheci, nem estou certo de que o mereça... Tenho pais que me amam, que todos os dias estiveram, e estão, perto de mim. Tenho um irmão que me ama, assim como eu o amo a ele. O facto de quase não falarmos é irrisório junto deste amor que existe entre nós. Tenho amigos, alguns. Mas amigos, amigos mesmo. Amigos daqueles que estão comigo quando eu estou bem e que quando, como nos últimos dias, percebem que estou mal, me convidam para jantar, para ir ao cinema, para beber chá. Amigos que me amam. e que eu amo. E hoje, mais do que nunca, não esqueço o que esses amigos têm feito por mim. A minha lealdade para com eles será para sempre.
Tenho uma mulher maravilhosa. Uma mulher maravilhosa que não está comigo. Não está comigo porque a magoei de uma forma que só aos poucos, para poder ter paz comigo, me poderei perdoar. Ainda não posso. Só poderei no dia em que refizer com bem o que com mal destruí.

Mas tenho essa mulher maravilhosa. Linda. Um sopro de vida. Um dia de sol. Esssa mulher está profundamente magoada comigo. Essa mulher sente que eu, nos meus gestos, no meu comportamento, traí a pureza do nosso amor. Traí. Fi-la sofrer. Muito. Isso empurra-me contra cada segundo.
Mas eu vou amar essa mulher, aqui, na distância. Sem uma única notícia dela. MAs vou. Porque esse mulher é maravilhosa. E acredito, porque acredito no amor. Em alguma parte do seu coração está ainda vivo o amor que nos uniu. Eu vou amá-la até que esse amor veja o meu e cresça, novamente, pleno de luz. Eu nasci para a fazer feliz.

E espero, todo o tempo, até que essa mulher regresse e eu a possa amar, proteger, ser amado e protegido.

É por tudo isto que eu não bebo. Porque ainda que as horas se tornem fundas, densas e pesadas, eu sei que, livre do que me mata, aos poucos renasço. Já o sinto, um pouco, e só passaram seis dias.
Como será quando tiverem passado 12? E 30? e 365? Terei renascido mais. Sentir-me-ei mais forte. Mais em paz. E então as horas ganharão cores e continuarão densas, fundas e pesadas, mas serão também, leves, ágeis, ligeiras. As horas são assim. Todas as horas, em potência, são assim. E eu senti-las-ei porque estarei maior.

Ninguém é sempre feliz. E ninguém é sempre infeliz. Existe um equilíbrio entre as duas coisas. Demorei muitos anos a perceber isto. Eu era sempre muito feliz ou muito infeliz.

Não me sinto feliz, mas sinto, minuto a minuto, a cada dia que passa e em que não me desvio do meu aobjectivo de amar e ser amado, que há uma realidade que vai nascendo dentro de mim. É a partir daí que tudo se recria. Será a partir daí que tudo recriarei.

"Como se depois de uma longa paragem, o meu coração tivesse, docemente, recomeçado a bater" - Albert Camus

Para a Joana

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Sunday, May 22, 2005
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Night Line

Todas as horas. Todas as horas me ensinam a tua distância. Como um aluno aplicado, retiro notas de cada uma delas. Como um aluno interessado, escuto o que elas têm para me ensinar. E aprendo. Aprendo, a cada minuto, que deverias estar aqui. Aprendo, a cada minuto, que estas horas têm que passar, far-me-ão crescer e, assim, farão o nosso amor crescer. Crescer mais ainda. E por isso estas horas têm que existir.

Em cada segundo, compreendo que deverias estar aqui. Em cada segundo, compreendo a falta que me fazes. A falta que me fazes em todas coisas, nas mais ínfimas e nas mais grandiosas. E, sei-o, umas não são antónimas das outras...

Estas horas têm-me ensinado isso. E muito mais.
Sabes que estas horas me empurram contra uma parede? Dizem-me: "Ficas aqui. Não há nada que possas fazer". E eu sei disso. Pela primeira vez na minha vida, a única maneira de fazer alguma coisa é não fazer nada. É escrever sobre as horas e, dentro de mim, alimentar este coração. E criar. E criar em mim, recriar em mim este amor. Já te disse que ele, agora, vive dentro de mim. Eu alimento-o, de palavras, de silêncios, de recordações, de esperanças e de sonhos.

E quando as horas me perguntam se acredito, se acredito que voltarás, eu olho-as de frente,
ponho as mãos no meu coração e respondo-lhes que um dia ele poderá fazer aquilo para que nasceu...

E as horas abençoam-me. Atiram-me luz. E eu sei que um dia virás.

Um dia o meu coração poderá fazer aquilo para que nasceu.
Amar-te.

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Saturday, May 21, 2005
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"What a wonderful world"

I see trees of green, red roses too
I see them bloom for me and you
And I think to myself, what a wonderful world

I see skies of blue and clouds of white
The bright blessed day, the dark sacred night
And I think to myself, what a wonderful world

The colours of the rainbow, so pretty in the sky
Are also on the faces of people going by
I see friends shakin' hands, sayin' "How do you do?"
They're really saying "I love you"

I hear babies cryin',
I watch them grow
They'll learn much more than
I'll ever know

And I think to myself, what a wonderful world
Yes, I think to myself, what a wonderful world

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Frases

"De todas as vezes que desanimei, fui salvo por nunca ter deixado de acreditar naquilo a que, à falta de melhor palavra, chamo «a minha estrela»"

"Quando vimos uma única vez o resplendor da felicidade no rosto de um ser que amamos, sabemos que não pode haver outra vocação para um homem que não seja a de suscitar essa luz nos rostos que o rodeiam"

"E na gloriosa luz de Dezembro, como só acontece uma ou duas vezes na vida que com isso atinge a sua plenitude, encontrei precisamente o que tinha vindo a procurar. [...]
Nesta luz e neste silêncio, anos de furor e de noite desfaziam-se lentamente. Eu escutava em mim um som quase esquecido, como se o meu coração, após uma longa paragem, tivesse voltado docemente a bater. [...] Um melro fez um pequeno prelúdio e depois de todos os lados irromperam cantos de pássaros, com uma força, um júbilo, uma alegra variedade e um encanto infinito"

Albert Camus.

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Um dia serei capaz de escrever.

Um dia serei capaz de escrever, no que me rodeia, aquilo que escrevo em páginas.

Um dia serei capaz de escrever, em ti, coisas infinitamente melhores do que todas aquelas que, ao longo dos anos, tenho escrito em páginas, em páginas, em páginas, em toda a parte.

Um dia, a minha mão esquerda será mágica. Um dia a minha mão esquerda será humana. Um dia a minha mão esquerda estará mais perto de mim. De mim.

Um dia as minhas palavras não flutuarão num espaço virtual, nem cairão, esquecidas, em toneladas de papel. Um dia, as minhas palavras serão vida. Um dia, as minhas palavras entrarão no fluir constante da vida. Um dia, as minhas palavras serão como laços indestrutíveis entre mim e todos os que me rodeiam.

Um dia não ouvirei dizer que tenho talento. Um dia tê-lo-ei.

Um dia não existirá a eterna discrepância entre o que escrevo e o que sou. Um dia essa discrepância não existirá.

Nesse dia saberei escrever.

Nesse dia saberei infinitamente mais do que milhares de vocábulos, figuras de estilo, técnicas de cadenciação, repetições, estruturações frásicas, modulações verbais. Nesse dia saberei infinitamente mais.

Nesse dia saber-me-ei a mim próprio.

E a minha mão esquerda começará, por fim, a escrever. Com todos os vocábulos, figuras de estilo, técnicas de cadenciação, repetições, estruturações frásicas, modulações verbais, no espaço entre mim e ti, no espaço entre eu e o mundo, como laços que me prendem ao que me rodeia, como abraços eternos que prendem a mim tudo o que me rodeia.

Nesse dia, a minha mão esquerda saberá escrever.

Nesse dia, a minha mão esquerda será mágica.
Nesse dia, a minha mão esquerda será humana.

Nesse dia, não escreverei poemas.
Nesse dia, escreverei poemas.

Nesse dia, não escreverei amor.
Nesse dia, escreverei amor.

Nesse dia, escreverei.
E nesse dia, por fim, escreverei.

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Friday, May 20, 2005
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"Hell is the impossibility of reason"...

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Night Line

São 22:42. Não vou escrever sobre números. Nem sobre nada em especial. Vou escrever sobre escrever. Vou escrever sobre esta hora. Esta hora concreta. estas 22:42 de Sexta Feira, 20 de Maio de 2005.
Vagueio. Daqui a pouco será noite. Aquela noite de estar em casa. Aquela noite em que cada segundo parece uma batida profunda contra a parede do tempo. Aquela noite em que cada hora são 3600 projecções contra uma parede. Não mata. Mas mói. Mói. Mói até só de pensar. Parece que já sinto no peito o sufoco das horas da noite. E já o sinto, de facto. Serão as horas dos livros e dos cigarros na varanda. As horas de um silêncio impenetrável. As horas pesadas, fundas, densas. E depois, depois virá o sono. E nem isso...

O que me tem salvado é a minha fé. A minha força, que vou buscar ao meu amor por ti, que vou buscar ao meu amor por mim, que vou buscar a todas as partes onde existe amor.
Tenho fé. E é a tal coisa: acredito que este é o caminho certo. Que este é o único caminho. Não é nada fácil. Mas não existe, de facto, outro caminho. Não existe. E preciso de toda a força. De toda a força. E essa força vem-me de mim, vem do que lembro, vem do amor dos que me estão próximos e daqueles que me estão distantes. E do meu amor por todos eles. É isso. As horas vêm aí. Mas eu passarei por elas. Eu passarei.

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"Carta"
Os pássaros líquidos estão presos, estão feridos.
Sentem a tua falta.
Não voam sem ti.Caem no chão frio
Das gaiolas feitas de dias iguais,
E eu ergo-os com os meus sonhos,
Com as minhas palavras,
E digo-lhes que voltarás
E que, como sempre, voarão para ti,
Voarão de ti,
Voarão contigo.

As tulipas estão tristes.
Estão caídas. Eu seguro-as
Com sonhos, com desespero e com palavras,
E digo-lhes que voltarás.
Elas erguem-se um pouco,
Olham,
Não te vêem,
E eu seguro nos meus dedos trémulos
As suas hastes frágeis,
Agora mais frágeis do que nunca...

O Azul,
Lembras-te de como o Azul brilhava,
De como sóis estouravam no Azul,
Como se este fosse feito de ouro celeste?
Lembras-te?
O Azul não brilha. É Azul porque eu
Lhe digo que voltas,
Que um dia voltas,
E que quando voltares,
O nosso amor não poderia ser
O mesmo sem as explosões dos sóis
Que tu trazes no olhar, na pele,
Na boca, nos cabelos, no tacto
E nas palavras,
Nesses sóis que deixas cair para dentro
do Azul.
Só por isso ele permanece Azul.
Porque todos os dias eu lhe digo
"Ela volta. Ela vai voltar".
E não sei se ele acredita em mim,
Mas eu mostro-lhe o meu coração,
E ele vê o teu nome lá escrito,
E vê que esse nome está escrito
Desde antes de sempre.
E olha-me e pergunta:"Porque não está ela aqui agora?"
Então eu tremo, vacilo, e é um anjo que fala.
E o anjo diz que tu não estás aqui agora
Porque tudo deverá estar brilhante,
Puro,
Límpido,
Transparente,
Quando regressares,
Para que nunca mais te vás embora.
E o Azul resiste. Mais um dia. Espera.

O Infinito, sabes,
O Infinito está ferido também.
Diz-me que é só uma palavra.
E eu abro os olhos, abro o coração,
Tento dar-lhe luz e explico-lhe que não,
Que não é só uma palavra,
Que nunca foi,
Que nunca será,
Que é Vento,
Que é Tempo,
Que é Tempo para lá do tempo,
Que é Estrada,
Que é Horizonte,
Que é Futuro,
Que é Plenitude e Imensidão.
E ele pergunta-me quando voltas.
E eu respondo que voltarás
Quando ele menos esperar,
Como tudo o que fazes,
Mágica e Arrebatadora,
Um Dia de Sol a entrar pelas vidas
que te rodeiam dentro.

Quero que saibas que tratarei
dos Pássaros Líquidos,
Que segurarei os caules frágeis da Tulipas,
Que mergulharei sonhos dentro do Azul,
E a tua Liuz nos braços do Infinito.

Quero que saibas que estarão todos vivos,
À tua espera.

Quero que saibas que,
Quando regressares,
Os Pássaros, As Tulipas, O Azul e
O Infinito
Estarão aqui.

E tudo será para sempre.
E tudo terá passado.

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Thursday, May 19, 2005
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Como ter percebido agora que o post anterior tinha 239 palavras. Somados os dígitos, obtenho 14...
É uma verdade evidente.

Se contar as linhas, conto 39.
Entre 39 e 239 a diferença é 200. Ou pode ser só o 2.
Precisamente o que falta. 2.
Eu e tu.

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Números

Como clarões, os números.
Dígitos, nada mais. E, no entanto, neles pressinto uma força.
Não sei explicar esta força.
Mas pressinto-a com a nitidez com que sei que existem
As coisas palpáveis.
Existem momentos, muitos, em que não tenho respostas.
Não tenho respostas para as questões que me coloco,
Para as questões com as quais a vida me coloca.
E, então, surgem os números,
Respostas codificadas.
As respostas estão todas nos números. Mas eu não as sei ler.
Porque as procuro estruturar numa lógica.
Numa lógica convencional.
Que é a lógica que conheço,
E aquela que sempre tem servido de base ao meu raciocínio.
Não sei ler as respostas. Mas pressinto as mensagens que os números
Me enviam.
Apreendo-lhes o sentido.
Capto-lhes a aura
A essência.
É um tipo diferente de lógica.
Intuitiva.
Mística.
Nem por isso menos certa.
Ao contrário,
A vida muitas vezes me tem demonstrado
Que este poder intuitivo
É mais forte.

Claro que depois racionalizo. E depois acho que nada disto tem lógica alguma.
E que existem patologias psiquiátricas que começam assim.
E erro.

Talvez não tenha que compreender a lógica de tudo.
E talvez tenha apenas que estar eternamente grato por,
de alguma forma,
Me ser dado este tipo de compreensão.
Dar valor a isto.
Acreditar...

Porque, pensando agora com toda a lógica do mundo, valerá a pena acreditar em alguma coisa mais do que naquilo que nos aparece como uma verdade evidente?...

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Fingertips


Picture Of My Own

by Zι, Rui E Mr. Loop

Save me
from this sadness it's coming
or take me
before my smile it's dissolving
wake me
from this nightmare i'm entering
don't let me fall in the corners of my own

As a tear comes from inside
I feel like i'm gonna drown
and as i'm searching for something to occupy my mind again
I lay
Down on my bed
But then a picture of my soul shows me
there's no way instead

touch me
make me feel i'm alive
or forgget me
maybe i would die with time
love me
all i need is a hug
embrace me'cause times are going too rough

and as i think i'm lost nowhere
i find where i am all alone
and as i'm desperating slowly just looking
at my night without stars
i pray
that someone could call
but then a picture of my own
tells me i'm made to fall
and it's a picture of my own
a picture of my own
a picture of my own
that's making me feel this way
and i'm so sorry babe
it's all so silent here
up here
here,here...

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São 21:14 da noite.

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Anjo

Lembro-me, há muitos anos atrás, de estar no teu colo. Recordo-me que, numa das minhas birras dos 4/5 anos, não queria lanchar. Deste-me uma chinelada e eu fui-me encostar num canto do quarto junto à cozinha. Recordo-me de chorar, baixinho. não era um pranto compulsivo. Era um choro de dentro. Profundo. Sentia-me triste. Profundamente triste. Triste como uma criança dessa idade se pode sentir.
Passados uns minutos (não faço ideia alguma de quantos), vieste ter comigo e abraçaste-me. Deste-me beijinhos e disseste-me que eu era o teu menino. Senti-me em casa. Senti-me protegido. Senti-me amado. Isto aconteceu há cerca de 25 anos, mas ainda hoje recordo com nitidez todos os pormenores e ainda hoje sinto dentro de mim, a tristeza e depois o amor que me fizeste sentir. O carinho, a protecção, a segurança.
Éramos assim. Eu era o teu menino. O menino que tu amavas. O menino que tu protegias. O menino com quem só tu sabias lidar. Porque eras a única pessoa que sabia, intuitivamente, que toda a minha turbulência, toda a minha turbulência silenciosa, acabava quando me abraçavas, quando me davas o teu colo e o teu amor. Eu era tão simples. E tu eras a única pessoa que compreendia essa simplicidade. E eras, então, a única pessoa que sabia contornar todas as minhas barreiras. E contornavas dessa forma pura: com amor e com carinho.
Ao longo de todos os anos, isso não mudou. Eu cresci, tornei-me um homem, e mesmo então, só no teu abraço eu me sentia amado, eu me sentia em casa. Eu sentia-me protegido. Muitas vezes acabei por te trair. Muitas vezes, não percebi que envelhecias e que um dia morrerias. Não percebi, no fogo dos meus 20 anos, que o tempo urgia. Que o tempo urge sempre. E que um dia eu iria procurar o teu abraço e tu já não estarias cá. Houve muitos dias em que não apareci. Namoradas, borgas, tudo me parecia mais importante. Era mais imediato. Não me perdoei nunca cada dia em que não apareci. Mas sei, sei que tu entendias sempre. Que tu não me amavas nem um pouco menos. E que, sempre, o teu menino andava com coisas próprias da idade dele. deste-me todo o teu amor, e mesmo quando eu não to devolvi, não me deste nem um pouco menos. Por isso o teu amor era tão especial. Por isso o teu amor me fazia sentir em casa, por isso só o teu amor me fazia sentir criança novamente, puro, protegido...
Morreste há 7 anos. E todos os dias sinto a tua falta. E existem momentos, então, em que dava tudo para que me pudesses abraçar outra vez e eu pudesse, tal como há 25 anos atrás, chorar no teu colo.
Como hoje. hoje dava tudo para entrar na tua casa e poder chorar no teu colo. E agora, agora penso em ti. Sei que estás em toda a parte, sei que estás sempre perto de mim. Sei que, ainda que não te sinta físicamente, tu estás sempre perto. E por isso, se choro, é como se fosse no teu colo. E como se conseguisse ouvir a tua voz. Ser o teu menino. Nunca deixei de o ser. E é quando me liberto de todas as coisas, de todos os artefactos da minha personalidade, e consigo ter novamente quatro anos, estar vulnerável, que volto a ser o teu menino, e, então, que volto a ser eu...
Pensar que nunca mais ouvirei a tua voz... Mas ouço-a dentro de mim... Sempre...
E nos melhores momentos sorris para mim...
E nos piores, sei-o, dás-me colo, carinho, amor...
E esperas sempre por mim, mesmo quando eu não apareço... Regresso e tu, ainda que triste, sorris e abraças o teu menino com o mesmo amor de todos os dias... De todos os dias...

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"A Luz"

Existem noites longas. Muito longas.
Existem noites sem sinais de aurora. E por isso são longas.
Demasiadamente longas.
Existem noites em que tudo é saudade.
E perda. E arrependimento.
E escuridão.
Noites longas. Demasiadamente longas.
Não adianta escrever em noites assim.
Não se atenua anada.
Nada se alivia.
Nada se coloca no seu lugar.
É estranho todo o mundo que me rodeia.

Mas tenho uma luz em mim.
E enquanto sufoco em noites longas,
Essa luz envolve-me
E trabalha na escuridão, para,
no final,
Me devolver a magia solar
Dos Dias Azuis.

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Wednesday, May 18, 2005
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Porque por vezes as palavras têm a força imensa de serem uma candeia que ilumina o nosso caminho. Dante escreveu, no início de "O Inferno", algo como " a meio da viagem da vida dei por mim num bosque escuro". Por vezes, encontramo-nos assim, num bosque escuro, em que todas as referências parecem irremediavelmente distantes. E aí, procuramos a fé, a nossa própria fé. Não quero falar de fé, mas falo de força, e força é fé. E por isso falo nas palavras, e na forma como algumas palavras têm o condão de nos iluminarem o caminho. De nos lembrarem, como alguém um dia escreveu, que "there's always something after"... Isto é importate em dias assim, dias em que procuramos recuperar muitas coisas perdidas, muitas coisas estilhaçadas. E procuramo-lo sem uma certeza de que, no fim, tudo se irá reconstruir. Se calhar não. Mas enquanto existirem forças, vale a pena acreditar. E a força, muitas vezes, vem de palavras. Palavras como estas:

"E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre".

- Miguel Sousa Tavares.


Existe muita gente que acredita que estas palavras foram escritas sobre a morte de sua mãe, Sophia de Mello Breyner Andresen, no princípio de Julho de 2004. Não é verdade. Este excerto faz parte de um texto incluído no livro "Não te deixarei morrer, David Crockett", publicado há vários anos. Ora, assim, parece-me que este texto ganha ainda mais significado. Porque não é sobre uma pessoa. É sobre várias. Todas. É sobre a vida, sobre o que se perde e o que se ganha, sobre que amor e a felicidade encerram, dias felizes, e dias que depois se perdem. Pessoas que partem. Também comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram". Porque me construíram. Porque me deram amor. Momentos perfeitos. Instantes celestiais. Instantes tão cheios de vida que eu quis, por momentos, que fossem meus para sempre...

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"Joana"

Procurar o azul,
Agora que os sons são negros
E os olhares são baços
E nada, nada do que vejo é azul.

Reescrever pássaros que aprendem a ser líquidos,
Reescrever manhãs que existem por serem manhãs assim,
Esperar a última subversão do amor.

Reinventar tulipas que têm pétalas de infinito
Reinventar o próprio infinito,
E reiventá-lo com azul,
Com tulipas,
Com água...

Ressuscitar ao terceiro dia,
Ou noutro dia qualquer,
Porque o que importa é ressuscitar os dias,
os dias azuis,
Líquidos
e Infinitos.

Reencontrar a pureza.
Reencontrar a inocência da criança
Que brinca com cores,
Que brinca com flores,
Que brinca com palavras,
E com todos os mundos que as palavras desvendam.

Reencontrar a roda que gira sobre si própria.
A santidade das verdades puras.
Ser criança e brincar o amor.

Reencontrar-te, por fim.
Os dias de sol, os beijos de lua.
O abraço das águas, os braços de tulipa,
a íris dos dias azuis
E dos dias infinitos.

Reencontrar-te.
E ser criança outra vez.

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Thursday, May 12, 2005
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Já sei. Já sei dos dias. Do que os dias fazem. Do que os dias sempre fizeram. Do que os dias, todos os dias, continurão a fazer.
Já sei. Desde sempre, julgo. Desde sempre.
Não é fácil. Não é. Existem tantos dias. Mais dias do que qualquer outra coisa, a não ser as coisas em que os próprios dias se subdividem, como as horas, os minutos, fracções mais pequenas de tempo.
Já sei o que os dias fazem. Nem sempre o soube. Já há muito tempo que o sei. Tenho passado a vida nisto. Tenho passado os dias a escrever sobre os dias, sobre o que os dias fazem. Já escrevi sobre cristalizar momentos. Já escrevi que escrever era fixar. E é. Mas viver não é escrever.
Não acredito em nada que escreva.
Não acredito em nada que tenha alguma vez sido escrito.
Não acredito em nada que possa algum dia ser escrito.
O futuro são os dias. O presente são os dias. E o passado, de todas as vezes que olho para o passado, são sempre os dias. Os dias e o que os dias fazem. A todas as coisas. A todos os momentos.
Não existe coisa alguma eterna. Porque nada existe que seja imutável. Porque nada existe que persista essência. Todas as coisas se vestem de dias, de horas, de minutos ou, em sentido inverso, de dias, de semanas, de meses e de anos que passam e que alteram a essência das coisas.
Não existe nada eterno. Porque os dias não deixam. Porque os dias alteram todas as coisas. Porque os dias subvertem as verdades. Porque os dias nos dão a vida tal como é. Feita de dias. De dias que passam. E tudo passa com os dias. Tudo. Todas as coisas. Sem excepção alguma.
Não o escrevo de uma forma ligeira.
Não o escrevo com profundidade.
Escrevo-o. Apenas.
Eu posso imaginar.
Mas não posso escapar aos dias.
E ao que os dias fazem.
Tudo.
A todas as coisas.

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Friday, May 06, 2005
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A mesma coisa, de uma forma diferente:

431511 562 521311152 1442532 2342312 522443512 5342134252 4252 1331152 31421411

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Sem ironias, fiquei feliz ao ler isto..


"Assunto: Apreciação editorial de Os Dias Difíceis

Exmo. Senhor,

Agradecemos o seu contacto e a sua proposta de publicação.

Infelizmente, a nossa programação encontra-se demasiado sobrecarregada, impedindo-nos de assumir novos compromissos e, por conseguinte, de aceitar o seu trabalho.

Gratos pela sua preferência,

Cordialmente..."

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