Locais...
Para Dar Uso, SFF!
Correspondência Interna
Thursday, September 29, 2005
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The daytime stories - a coisa azul
Fotografia por Abel Minnée
Acordar com a tua pele perto de mim. Seres a primeira voz que ouço. Ser o teu corpo aquele que está próximo. A tua alma flutuando no espaço azul. Conversas. Várias. Sobre coisas. Coisas que se conversam quando se acorda. Sonhos. Alguns. Sonhos que ficam na cama. Sonhos que trago comigo para o dia, sem que os vejas. Porque não podes saber que trago esses sonhos. Mas trago-os. E se tiver que os deixar algures, deixá-los-ei. E deixarei uma parte de mim com eles. Há coisas que se vivem e que nos mudam. Há momentos que, de facto, nos mudam para sempre. Tu mudas-me. Tu mudas-me um pouco cada dia. E existem dias em que me mudas muito. Por dentro, claro. No meu universo, no meu mundo, no meu espectro de sonhos e de vivências. São as vivências, sabes, meu amor? São sempre as vivências. As palavras, as tuas palavras, o teu sorriso, esse permanente estar perto e estar longe que existe em ti. Agarro-te. E no segundo seguinte, estás a um mundo de distância. E eu digo-te com os olhos que estou à espera, à espera que regresses. É importante que saibas que podes partir. É importante que saibas que podes ir. É importante e não vais. Não partes mesmo. E eu sei assim que ficas porque queres. Que ficas porque, para lá de todas as coisas, a verdade é pressentível, e a verdade, hoje, é uma coisa azul que vive por dentro de nós. Agora escrevo. E sei que algures, o teu olhar por segundos hesita, e procura-me por entre os espaços. Sou a coisa azul dentro da tua alma.
Como o meu olhar. Enquanto escrevo. Procuro definir-te entre as palavras, nas frases, e estás aqui um pouco por todo o lado. És a coisa azul dentro do texto. És a coisa azul dentro das palavras, por entre as frases, onde as figuras de estilo bebem magias, e se tornam na tua imagem. O que escrevo, reflecte-te. E por isso, só por isso, o que escrevo tende para o azul e o que escrevo se justifica a si próprio.
Porque começa de manhã, na memória de quando acordas, e vai seguindo pelos dias fora, pelas noites dentro, pelas espaços encantados, e pelos outros espaços, reais, do mundo e da vida, às vezes cinzentos, às vezes frios. És a coisa azul. A coisa azul e quente. A memória perpetuamente inscrita em cada momento. Como um passado que se crava em cada presente. Como uma antecipação de futuro, permanente. Ainda que possas não o ser. Mas és azul. E isso, sem dúvida alguma, serás sempre.

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Sunday, September 25, 2005
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“Night line: a vida”

fotografia tirada por ale Raso

Incomoda pensar. Por isso, não pensamos. Até que somos obrigados a pensar. Porque acontece demasiado perto de nós. E então pensamos, alguns dias, algumas semanas ou meses, mas depois deixamos de pensar, porque a verdade é que é impossível viver a pensar nela. Claro que me refiro à morte.
Tenho uma relação estranha com a morte. Como qualquer pessoa, não a penso constantemente, e vivo a minha vida como se ela fosse durar sempre. Não vai, e tenho por vezes a percepção apurada disso mesmo, razão pela qual tento sempre, em todas as situações, ser eu próprio. O melhor de mim próprio, tento. Se bem que nem sempre isso é possível. Mas a minha ligação à ideia da morte remonta aos meus quatro anos de idade. Recordo-o como se tivesse acontecido hoje. Não sei o que despoletou tal pensamento. Não morrera ninguém próximo nessa altura, mas talvez o facto de passar muitas vezes perto de um cemitério, ou de ter falecido alguém na vizinhança, talvez isso tenha motivado qualquer conversa que, depois, me fez pensar. A minha mãe estava, nessa noite, a falar ao telefone, deitada na cama. Eu estava deitado, abraçado a ela. E de repente percebi o que era a morte. De repente vi-me velho e percebi que morreria. E percebi que nunca mais existiria. Fim da vida. Morte. Comecei a chorar. E a minha mãe perguntou-me porque chorava e eu respondi-lhe a verdade, porque um dia ia morrer. Ela ficou meia sem saber o que dizer, e não me recordo do que respondeu. Sei que me abraçou, que me senti mais seguro e resolvi não pensar no assunto. Mas tinha 4 anos, Hoje tenho 30, e recordo esse pensamento. O terror da morte.
Fui ateu durante muitos anos. E no meu ateísmo a morte era, novamente, uma imagem aterradora. Por ser o fim da existência. Total. Porque o mundo existia há milhares de anos e eu nunca existira, e depois da minha morte, o mundo continuaria a existir. É um pensamento estranho. Absurdo quase. Mas que quando deixa de ser absurdo e se torna inteligível, é perfeitamente aterrador. Não sou ateu hoje. A morte não me assusta menos por causa disso. Não vivo a pensar nela. Vivo a pensar na vida, porque foi a forma que arranjei de viver tendo a morte de alguma forma presente. Viver. Ser o que quero ser. Ser o melhor de mim. Feliz. Dar felicidade. Dar amor. Ser amado. Viver.
Porque um dia tudo termina. Um dia, todos nós não estaremos aqui. Eu que escrevo, vocês que me lêem, um dia não estaremos aqui. Um dia, outras pessoas, com outros e com os mesmos sonhos reunir-se-ão, em espaços concretos, em espaços virtuais, e viverão, dia após dias, como nós vivemos. E depois, mesmo essas pessoas deixarão de existir. E existirão outras. Quando penso nisto, penso no milagre de existir. Penso na benção de um espermatozóide e de um óvulo terem originado a minha pessoa. Penso nessa magia. Nessa coisa insondável. Por onde a religião e a filosofia se procuram, de costas voltadas tantas vezes, desde sempre. Por onde o homem se procura a si próprio. Porque esse é o milagre inexplicável. A benção maior.
Só quero dizer, no fundo, que quando penso na morte, penso na criança de quatro anos que a compreendeu e que chorou angustiada por causa disso. E depois penso na criança de quatro anos. Só.
E algo se harmoniza dentro de mim.


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Saturday, September 24, 2005
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“Manual de Pornografia XVII – a estrada”

Fotografia tirada por Carina Berlingeri
Lábios. Atravessados por uma violência súbita, de beijo, de pantera que sente o cio na tua pele. Instinto.

A visão de tudo através de uma interpretação poética, ciente de rumo. Pressentível de futuro.

Nostalgia de mar, ou de dias cravados na mente. Ou de noites suspensas. E de quartos incendiados por estrelas que caíram quando o teu olhar as fixou.

Há estradas que não sabemos onde nos levam. E ainda assim sabemos que são nossas.

Que não existem outras.

Este vento azul da tua alma nos meus dias...

Esta certeza...

Este pressentimento de vida por todo o lado...

Esta harmonia... Estrada.

Equivalência: destino.

Solução: Enigma.

Método: Instinto e análise perceptiva. Percepção criativa.

Estado actual: dados de cromatismos parcialmente decifrados.

Anotado em: volume XVII, Manual de Pornografia.

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Wednesday, September 21, 2005
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Dedicado à memória do Leonardo (1976 - 2005)
Por um pedaço de céu
Há quem troque a vida.

Por um traço de estrela
Há quem troque os dias

Por um rumor de astro
Há quem abandone o trilho

Por um lastro de sonho
Há quem descubra a verdade

Por uma premonição humana
Há quem siga o azul

Por uma intuição apenas.
Há quem tenha coragem para a seguir.

Há quem tenha dias de loucura
E loucura para persistir.


Não acredito em nada.
Acredito nisto.

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Tuesday, September 20, 2005
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“Princípios de subversão – Parte I – o movimento”

Fotografia por Igor Sivjakov

Eternidade do amor?
A eternidade não existe, é um futuro que está sempre a chegar, e que quando chega é presente, não é eternidade. A eternidade só existe quando deixa de ser o próprio conceito e se transforma num outro: presente.

Eternidade do amor? A pergunta não tem resposta. A resposta é sim.

Pelos meandros do sexo. Procurando isto. A resposta. Só existem perguntas. Não existem respostas. E a resposta é sim.

Vaguear, de dia para dia. Como uma existência quase livre, que se depara com perguntas, e que se prepara com respostas. Mas não existem respostas. Em lado algum. Foram procuradas em toda a parte, no céu, nas árvores, nas mentes humanas, nos corações, nas noites, e nas madrugadas plenas. Não existem respostas. E a resposta é sim.

O sentido profético das palavras. Porque em todas as palavras existe uma profecia por decifrar, ou uma profecia decifrada. E então lançam-se os olhares e as mentes na busca das respostas. E o mundo devolve perguntas. Porque não existem respostas. E a resposta é sim.

Eternidade. De quê? Não existe. A resposta é sim.

Amor? O que é? Não existe resposta. A resposta é sim.

Não existem respostas. E todas as respostas são sim.

Sim. Movimento afirmativo da profusão contínua do mundo e de outros universos paralelos.

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Monday, September 19, 2005
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“Manual de Pornografia XVI – Equilíbrio”

Fotografia por James Bambery

Se a presunção da inocência está no lado do amor, eu quero advogar a mesma presunção e a mesma inocência para o sexo e para a pornografia.

Os Manuais não se constituem numa base erótica, ou seja, não são escritos como se as palavras fossem um trapezista habilmente confortado pela rede em baixo.

Os Manuais são escritos com as palavras, com cada uma delas, num trapézio sem rede, onde o equilíbrio é, só e apenas, o seu exercício extremo de Beleza.

A Beleza está para lá dos limites morais. A Beleza habita um mundo onde a linguagem é um código em permanente recriação. Motivo de recriação: a própria Beleza.

O que digo é que as palavras ganham novos contornos, e esses contornos são diferentes porque a estrutura moral de cada palavra é diferente. Mais Livre. Mais Bela, portanto.

Formalmente parecerão as mesmas palavras, mas o equilíbrio, esse exercício extremo de Beleza, leva as palavras a ganharem novos contornos no contacto e na proximidade de umas com as outras.

Os Manuais não são poemas. São espaços onde se afirma a inocência do sexo, da pornografia e do amor.

São espaços onde nada mais cabe do que o trabalho leve e preciso de um equilibrista. O extremo exercício da Beleza.

O Manual é amoral. É criação de um esteta.

Se o Manual recriar a palavra foder, esta não deverá ser lida como algo sujo.

Se o Manual recriar a palavra cona, esta não deverá ser lida com a presunção de culpa. Não existe culpa no mundo azul. E azul é o mundo do esteta.
Se o manual recriar o meio das tuas pernas, não deverá nesta expressão ser procurado um eufemismo. O seu exercício é o equilíbrio.
E portanto, o esteta terá a cona no meio das tuas pernas e o meio das tuas pernas na cona. Porque pura e azul é a Visão perfurante da Beleza.

Se o Manual recriar a palavra puta, também a esta não deverá ser assacado qualquer crime. Equilíbrio. Extremo exercício da Beleza.
Se o manual recriar a palavra deusa, não deverá esta ser adorada a priori.
O seu exercício é o equilíbrio, a marca da Beleza fulminante. E na construção estética, os olhos puros verão a puta por dentro da deusa e a deusa por dentro da puta. Palavra: equilíbrio.

Amoralidade e Liberdade.

Nunca esquecer que o Manual é estética e paixão.
Equilíbrio. Exercício extremo da Beleza.



Para a Leonor.

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Sunday, September 18, 2005
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"A suprema liberdade"

Fotografia por Andrea Cercaci

Por uma permanência líquida troco as palavras todas. Subverto os conceitos, porque, essencialmente, creio que se pode pensar de outra forma. Matemática. O pensamento é matemática, e mesmo quando é poesia e criação é a mais pura matemática. Talvez a matemática devesse atentar nisto...
Crio então, e os conceitos são o que quero que sejam. Exijo a sua suprema liberdade. E existe o direito de não gostar das palavras. Ou de as amar. Mas não se poderá, nunca, ter o direito de as condenar.
Porque aquele que fala, fala com a voz límpida, pura, livre. Mil anos de moral caem debaixo dele, e ele ergue-se perante o mar e canta a suprema liberdade. Não só a liberdade de amar, mas a liberdade de criar, a liberdade de atingir o cinismo do mundo no seu cerne, e onde encontrou pus, saber fazer crescer tulipas e flores de todas as cores que existem no mundo.
Aquele que conhece os meandros, aquele que estudou a escatologia dos relacionamentos sociais, as suas poses, as suas falsas convicções, vê nascer em si, ventos gélidos e puros, que tudo varrem, que tudo levam.

Eu sempre pressenti que o mundo era imenso. E por isso nunca compreendi a claustrofobia vivencial que tantas e tantas vezes me atacou.


Mas isto não é importante. Claramente não é importante, porque falamos de linguagem. Mas Deus, a linguagem é a base de grande parte do pensamento. Pensamento conceptual. Ora se os conceitos estão à partida indiciados de determinados crimes, não irá todo o nosso pensamento perder a sua liberdade fundamental? Repito, a moral esconde-se nos conceitos. E por isso parece que é de sempre. Porque é com a moral que aprendemos a comunicar com o mundo. Nós aprendemos. O mundo já sabe. Nós ficamos a saber o que já existe. E pronto, com sorte, nunca mais saímos daqui.
Claro que comigo tiveram azar. Porque eu penso demais. É um facto. Penso demais. E tenho outro problema. Amo. Amo a vida. Amo estar vivo. Amo a existência. Quero conhecer todas as suas fronteiras. E não, não me estou a cingir a um plano sensível, falo de todos os planos. Mesmo da abstracção do pensamento. Porque o pensamento abstracto permite colocar o indivíduo perante o mundo, como uma coisa em si.
E aí o indivíduo talvez descubra que existe uma coisa que é o seu próprio pensamento. Não é de mais ninguém é seu. E se for atento e curioso, e amar as coisas, vai querer perceber esse seu pensamento. Vai ampliá-lo. Vai cuidadosamente evitar todas as rasteiras do pensamento conceptual. Precisa dos conceitos, como é evidente. Mas agora, agora tem a liberdade para ele lhes atribuir o valor. E como um juiz justo, não indiciar a priori, conceito algum de qualquer crime. E isso, isso é criar uma nova forma de pensar. E se pensarmos que isto não está fora, isto está desde sempre dentro de nós, então que teremos andado a fazer com as nossas vidas?
O pensamento que se descobre, logo é atacado por todos os lados. A moral Não perdoa. É vigilante. E tem faro para aqueles que pressentem a suprema liberdade. Ataca-os. Como? Na ponto mais baixo ( e por isso odeio a moralidade estabelecida), na sua humanidade. Naquilo que em si é, não pensamento, mas humanidade. Falhado. Proscrito. Poderias ter sido tanto. E dão-te o olhar de comiseração que dão aos loucos. Mas tu não estás louco. E na tua humanidade sentes cada segundo desse ataque vil. Com quem falas? Com quem pensa como tu. Não como tu, mas com quem pensa por si. Mas é difícil encontrar. E portanto, a solidão surge como algo natural. Falas com quem amas, porque entendam ou não entendam a parte do pensamento, o mais forte é sempre a humanidade, e esse vínculo permanece sempre vivo.

E o mundo segue todos os dias. A sua marcha rumo a não sei bem o quê. E ficamos por fora, por dentro, no azul, no mar, nas rochas, no sol, nas crianças e nas searas, nos sonhos e nas águas infinitas, nos incêndios e na imanência divina, por entre os anjos e os Deuses, por dentro e por fora, escrevendo, escrevendo sempre.
Porque um dia um de nós será lido. Muitos de nós serão lidos. E a moral deixará te ter o monopólio do pensamento.

E essa é a suprema liberdade.

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Saturday, September 17, 2005
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(A)Moral

Fotografia por Margaret Sturgess

A Luz. Os dias. A frequência. A determinação.
Mil hesitações. Por dentro. Viver por dentro. Trazer para dentro. Ás vezes, ir lá fora. Quando é seguro. Quando parece seguro.

Resolver o enigma. Precisar de uma verdade. Mestre em perceber a articulação de todas as coisas. Curiosamente, quando era criança, nunca gostei de desfazer os brinquedos para perceber como eram feitos. Agora, que sou adulto, gosto de dividir as coisas nas suas partes essenciais, para perceber, exactamente, de que é que são feitas. Existem coisas bonitas, mas que na sua associação com coisas menos bonitas, se revelam num todo de alguma forma prostituído. Perdem a Beleza. Acusam-me de ser intransigente, talvez. Mas a Beleza é algo de total, e portanto não pode existir transigência, pois que esta desvirtuaria o carácter da própria Beleza, tornando-a numa máscara, ou qualquer outra coisa onde a fealdade do compromisso seria pressentível.

Existem coisas, complexas, que mesmo nas suas partes mais simples, são feias. São sujas. Não são puras. Existem muitas. Talvez não sejam a maioria, nunca fiz essa contabilização. Mas são muitas, de facto. Não interessa atentar demasiado neste tipo de coisas. Mas importa atentar o suficiente. Acredito no conhecimento.

Existem coisas simples. Moralmente são horrorosas. Aprendi a pensar de uma forma amoral. E portanto, muitas vezes conclui que essas coisas são belas na medida em que são puras expressões de vida. E horrorosa é a moral que a julga. Ou porque não a conhece. Ou porque a conhece e a teme. Profundamente.

Evidentemente, existe uma conduta moral em mim. Porque a conduta moral é inerente ao ser humano. Simplesmente, a minha, em alguns pontos, difere da moral estabelecida. Esses pontos são essenciais, e por isso o divórcio que sempre existiu entre a minha moral e a moral que me quiseram ensinar. Aprendi-a. Mas depois, fiz como as crianças, e comecei a desfazê-la. E então entendi-a. E como a entendi, questionei-a. Não obtive respostas. E as que obtive eram sempre com base em postulados da própria moral. Não posso acreditar numa moral que não se sustenta a si própria no devir, não posso acreditar numa moral que apenas se sustenta numa lógica argumentativa fechada, em que, necessariamente, os postulados primários são inquestionáveis.

Não há nada inquestionável. Nada. Coisa alguma. Tudo é questionável. E tudo deve ter uma resposta. E tudo deve ser passível de compreender que a resposta está errada. E reformular o pensamento, ou seja, reformular a moral. Não aceito uma moral que não se reformula e que nem sequer admite essa possibilidade.

O que finalmente compreendi, ao fim de 30 anos, é que a minha moral, para mim, deve ser mais valiosa, mais importante. Porque é minha? Não, esse é o erro da moral estabelecida. Porque a minha moral se baseia em pressupostos simples: liberdade, amor, pensamento, dar, viver, conhecer. A minha moral não é estática, pois que os seus pressupostos, eminentemente são dinâmicos. E os pressupostos, que são princípios éticos, até esses são e serão sempre questionáveis. Por mim, em primeiro lugar.

Daqui se conclui que não quero vencer este “combate” entre a moral e a minha moral. Não. Nem quero combater. Quero viver a minha moral. Os meus princípios éticos. E todas as suas derivações.

Acredito nas coisas simples. Nas expressões fulminantes de Beleza. Nas expressões fulminantes de vida. Acredito nas coisas complexas, no princípio contraditório da vida em si. Preto ou branco? Azul.

Mas denunciarei, naquilo que melhor sei fazer, tudo o que o mundo, e a moral estabelecida, faz. Porque, disse-o algures, não pode haver perdão para os que destroem a Beleza. E eu recupero a Beleza que ao longo de trinta anos quiseram que eu esquecesse. E muitos esqueceram. Muita Beleza morreu. Porque a Beleza é, sempre, e em qualquer forma, um acto criativo, de um ser ou coisa, em interacção com o mundo.
Todas as ditaduras detestam a criatividade. E a moral é uma ditadura. E nisso não é diferente das outras.

Escreverei. Sempre. Até ao dia em que morrer. E todos os dias escreverei sobre a Beleza, sobre a Essência, sobre a Profusão contínua. E todos os dias celebrarei no corpo e no espírito essa Beleza, essa Essência, essa Profusão azul.

E a minha vida será, assim, mais plena. E a minha vida será, assim, imensamente mais preciosa.


Para as crianças.

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Friday, September 16, 2005
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Luz

Fotografia por Philip Allport

120 dias... E não são os de Sodoma e Gomorra...

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Night Line – A Carta...
Fotografia tirada por Chelsea Burke

Especificamente, amo-te. Especificamente, o que sentes atravessa-me. O que me atravessa, especificamente, não tem muito que ver com distâncias, dessas que os calendários e os quilómetros nas estradas contam.

Especificamente, tem a ver com o contacto da alma. E o contacto da alma, não escolhe alturas específicas, e por isso assume contornos de permanência, e especificamente escolhe uma noite ou um dia, para lembrar, uma vez mais, essa permanência, esse milagre.

Especificamente, amo-te. E isso, é uma especificidade que trago em mim, como trago as outras coisas essenciais, o sangue, o espírito, os músculos, a biologia.

E de uma forma específica, este amar-te espalha-se-me pelo corpo todo.

É assim que me atravessas. Nesse momento específico que tem a ver com distâncias que não existem, e com proximidades que a alma poderia explicar.

Fecho-te os olhos. Para que durmas.
Seguro a tua tristeza. Para que fique em mim.
E sorrias enquanto sonhas. E sorrias enquanto um novo dia chega.
E eu estarei contigo até que o sol te lembre que, também ele, especificamente, te ama.

Porque, especificamente, eu amo-te.
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Wednesday, September 14, 2005
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Manual de Pornografia XV - "A Revolução Pura"

Fotografia por Marco Cassé

O mundo vive viciado em sexo. Toda a gente está sempre a ser comida por alguém, a comer alguém, a pensar em ser comida ou em comer alguém, é algo que não para a cada segundo. É algo que não chega a ser consciente muitas das vezes. Não se pode duvidar disto. Não se pode dizer eu não quero ser comida (o) por ninguém, nem quero comer ninguém. Se assim for, é a energia sexual na mesma, mas nos seus antípodas, no sítio onde apodrece, onde se estagna. Não deixa de ser o sexo.

E o que escrevo nem é original, porque já alguém disse que pulsão sexual é a pulsão vital em si. E o sexo é a fonte de toda a vida. Portanto, o sexo está em toda a parte. Visível, não visível, pressentível, não pressentível, ele existe e está em todo o lado.
Conas, conas em toda a parte. Existem milhões de conas que passeiam pelo mundo fora enquanto escrevo. Existem milhões de conas que estão sentada em frente à televisão enquanto escrevo. Existem milhões de conas que estão abertas a serem fodidas ou bebidas enquanto escrevo. Pilas, a mesma coisa.
As roupas disfarçam tudo. Se tirarmos as roupas o que vemos nas multidões? Pilas e conas na proximidade umas das outras, sentindo o cheiro umas das outras, sentindo o chamamento umas das outras.
Porque raio é que o sexo é o que é?
Porque raio é que o sexo é pecado?
Porque raio é que o prazer é pecado?
Porque raio é que aprendemos a esconder isto tudo, como se tivéssemos uma ignomínia no meio das pernas, e uma pulsão escabrosa no centro da libido? Porquê? Nunca consegui entender isto. Nem nunca o conseguirei entender. Porque está errado. Portanto, não me podem fazer compreender isso.
As coisas melhores que vivi na vida estiveram ligadas a duas coisas: a conas e a olhares. E mesmo quem me lê e não me entende, aceitará, que a coisa melhor da sua vida, a sua vida em si, surgiu duma cona e de uma pila.
Não, não foi do amor. Foi do sexo. Não é o amor que provoca uma erecção. Não é o amor que estimula os epididimos, não é o amor que arranca o orgasmo de dentro de cada um de nós. É o sexo e a pulsão sexual.
O amor, o amor é o olhar. O amor está lá. Quando perdemos tudo , ficamos nus e caímos no olhar que nos segura, nos dá paz, nos dá ternura, nos dá, precisamente, amor.
Amor é amor e sexo é sexo. E amor pode ser sexo. E sexo pode ser amor.
Ambos são puros. Um é divinizado e, consequentemente, castrado. O outro é perseguido e, portanto, ostracizado, como uma coisa porca.
O que é uma coisa porca? É uma mente suja.

O sexo é limpo. Puro. Luz. Pulsão.
Movimento primeiro da grande revolução azul e pornográfica. A revolução Pura.

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Monday, September 12, 2005
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Manual de Pornografia XIV – o olhar

O teu olhar tem tantas coisas.
As matérias sobre as quais versam os diferentes capítulos do Manual.

Como um desdobramento de uma única realidade fundamental em mil realidades fragmentadas, apreensíveis enquanto realidades autónomas, pressentíveis enquanto realidades que constituem a realidade fundamental. A que cresce no espaço entre os dias, e as coisas eminentemente físicas.

O Manual XIV debruça-se sobre a construção de uma deusa por dentro de ti. E, por osmose, sobre o crescimento de divindades por dentro de nós.

Uma forma pura de ver o mundo. Reduzi-lo ao impacto dos corpos. À explosão das flores.

Estreitá-lo, para que caiba no universo azul que se gera entre as tuas ancas e os meus quadris.

Uma eterna chuva de astros e de outras partículas derivadas da afectividade.
De frente. Um para o outro. E para o mundo. E para o destino.


O Manual XIV são os teus olhos. E todas as coisas.

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Sunday, September 11, 2005
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“Manual de Pornografia XIII – a orientação azul”
Fotografia por John Loreaux
Dias. Mais dias. Mais dias no fim dos dias e no princípio de outros dias.

E a tua vida no meio de mim. A dissolução de teorias, e de práticas fundamentadas. Um caminho no meio da floresta. Um avanço por entre as pedras, a caminho de algo como um mar.

Uma orientação azul, de destino, de procedência fundamental.

A essência de puta nos líquidos.
A essência de anjo nos movimentos.
A essência de deusa, no cheiro a destino.
A essência fundamental, no avanço dos dias.

Momentos em que tu me atravessas, de horizonte a horizonte, de fronteira a fronteira, de sorriso a sorriso, por toda a alma, corpo, sangue, lágrimas, espírito.

O milagre essencial da tua voz. E a cadência das flores.
Uma realidade politeísta. E uma forma de adoração concentrada, que parte de todas as coisas difusas.
Cromatismo. Alma. Fusão. Matéria divina.

Pornografia. Orientação azul. Sustentabilidade teórica: Manual XIII.
Desde a procedência fundamental.

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Friday, September 09, 2005
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“Manual de Pornografia XII – dos outros postulados”
Fotografia por Amer Kapetanovic

ritmo: das palavras. Do sexo. Dos corações, distantes, presentes. Confluentes à margem dos dias.

presunção de inocência: as flores. A dança dos caules, das pétalas e do vento.

premonição dialéctica: o teu avanço. Por entre as flores. Por entre o movimento. Por entre os dias.

a palavra: nos meus lábios. No teu espírito.

um dia: o mundo será azul. Será de deusas e de putas. De deuses e de Magos.
um dia: as palavras andarão na rua. Livres. Puras.
um dia: a tirania moral cairá.
um dia: um Deus dançará entre os corpos, as flores e a pornografia. E anjos ressuscitarão.

neste dia: Pureza na alma. Beleza no vento e nos dias.

um dia: todas as crianças do mundo nos campos de feno.
um dia: as palavras no ar e no vento.
um dia: o sol em toda a parte.

no meu sonho: o Deus dança...

matéria divina.

a palavra: Pornografia.


localização presente: Manual XII – dos outros postulados.

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Wednesday, September 07, 2005
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“Manual de Pornografia XI – postulados essenciais”

Manual. Dissertação compulsiva sobre os dias. Guia para a explicação de fenómenos físicos. Compêndio de estranhas formas de magia.

Pornografia. Conceito recuperado pelo espírito. Eixo sobre o qual uma luz infinitamente pura se difunde para o mundo. Abrangendo opostos. Dissecando a matéria antagónica da existência.

Tu. Princípio filosófico sobre o qual o Manual é redigido.
Eu. Alfabeto para uma forma sistematizada de ver o movimento do mundo.

Nós. Princípio da Unidade Pura.

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Tuesday, September 06, 2005
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"El Alma"

Hoje, mais do que nunca, os meus braços estão perto. Os meus braços, hoje mais do que nunca, estão nas mãos da minha alma, e a minha alma sabe o caminho para a tua. Hoje, mais do que nunca, seguro os teus olhos.
Hoje, mais do que nunca, ensino-lhes as cores. E mesmo que não as vejas, repeti-las-ei até que surjam À tua frente. Hoje, mais do que nunca, não haverá cansaço. Haverá este abraço. Que escrevo em palavras. Que escrevo em palavras que só tu lês. Que a minha alma desenha sobre a tua. Protejo-te. Abraço-te. Hoje, mais do que nunca. Não deixarei que o movimento dos dias te faça sentir perdida. Segurar-te-ei nos meus braços, e os dias, esses, rodopiarão lá fora. Aqui dentro, nos meus braços, estás segura, e o mundo não rodopia louco. Aqui dentro, nos meus braços, descobres a tua pureza e a tua força. O fascínio que é teu. Tudo o que me faz saber, a cada momento, a benção que és. Tudo o que, a cada momento, me faz saber que só os teus olhos contam. Só os teus olhos importam. E a Ternura. Imensa. E isto. Imenso. Entre nós. Nos meus braços, hoje mais do que nunca. Descansarás. E descobrirás, dentro de ti, a tua força, o teu sorriso, a tua forma de virar e incendiar o mundo, com cores, flores e outras palavras que voam no céu onde fazes a poesia de cada minuto da tua existência.

Mi alma. Tu alma. Hoy, solo hay un alma. El nuestro.

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Friday, September 02, 2005
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“Sem guião aparente”

Protagonizada pela luz. Sem guião aparente. Uma improvisação de estrelas e de cometas. Palco: uma noite improvável.
Espectadores nocturnos: anjos, gnomos, criaturas mágicas e azuis.
Deixa para a improvisação: o sexo.

Protagonizado pela luz. Sem guião aparente. Um rebentamento de estrelas e de cometas. A probabilização no tempo e no suor, de uma noite primordialmente improvável.
Espectadores nocturnos: tu e eu. Anjos, gnomos, criaturas mágicas, azuis que também somos.
Deixa para a improvisação: o olhar.

Protagonizado pela luz. Sem guião aparente. Um rebento de estrelas e de cometas, uma metáfora do rebentamento de orgasmos. Nos olhos. Nos meus e nos teus. Palco: o fim do mundo. Encenado numa noite provável.
Espectadores: tu e eu. E o tempo. Suspenso.
Deixa para a improvisação: o amor.

Protagonizado pela luz. Sem guião aparente. Um rebentamento de estrelas, de cometas, de luas e de sóis. Metáfora de rebentamentos interiores. Incontáveis. Intraduzíveis. Palco: a vida.
Espectadores: tu e eu.


Nós. Esta palavra. E o seu significado profundo e eterno.

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